Por Alexandre Timmers Montandon
As pessoas costumam se espantar com a resposta, mas toda vez que me perguntam com o que eu trabalho, é inevitável a reação: histórias em quadrinhos. Nem sei se consideram quadrinista uma profissão, perguntem ao Mauricio de Souza, mas o fato é que as pessoas ainda tem dificuldades em entender como algo associado a diversão pode ser uma profissão?
Comecei cedo rabiscando os cantos dos livros de escola, fazendo desenhos dos colegas, caricaturas dos professores... nas férias na casa da avó, trocava pequenas histórias por sorvetes e doces. Na adolescência, passada na Itália, fiz alguns cursos de quadrinhos e conheci uma outra realidade, onde essa linguagem, tratada como arte, era direcionada principalmente ao público adulto, com direito a exposições e seções inteiras nas livrarias dedicadas aos álbuns europeus.
De volta ao Brasil, durante a faculdade, consegui uma oportunidade na Editora Abril e fiz roteiros para os quadrinhos da Disney. Era algo tão surreal, os personagens que povoaram minha infância, como Zé Carioca, Pato Donald e Peninha, agora tinham histórias escritas por mim! E logo adiante, outro presente do destino: fui trabalhar com o Ayrton Senna, meu ídolo na época, a quem tive o prazer de chamar de “chefe”, participando da equipe de criação do personagem Senninha. Para que o leitor tenha uma ideia da honra que era isso, participamos no final do ano de um amigo secreto com ele na brincadeira!
Apesar da grande curtição, fazer histórias em quadrinhos é na sua essência um trabalho árduo e solitário. É preciso muita dedicação, treino e disciplina para atingir um estágio profissional. São horas desenhando, todos os dias, semanas para produzir uma história que, em muitos casos, poderá ser lida em apenas alguns minutos. E mesmo com toda a tecnologia disponível, uma boa história em quadrinhos sempre nasce de um trabalho quase artesanal entre roteirista e ilustrador.
Foi durante um curso na USP de especialização na linguagem dos quadrinhos que surgiu a ideia de usar os quadrinhos para educar e conscientizar pessoas, ao invés de apenas divertir. Em 1994, abrimos a editora Qualidade em Quadrinhos e nos especializamos em criar histórias para treinamentos e campanhas de motivação na área de Gestão da Qualidade. Logo em seguida, ampliamos para outras áreas, como gestão ambiental, responsabilidade social, segurança alimentar, entre outras. Desse casamento improvável entre gestão e quadrinhos surgiu a força do nosso trabalho. A missão da nossa editora é democratizar informações através da linguagem dos quadrinhos, estimulando a Comunicação como ferramenta para o desenvolvimento da Qualidade, Excelência e Bem-Estar das pessoas.
E sempre em busca de cursos que me ajudassem a ampliar essa capacidade de Comunicação, entrei em contato com os conhecimentos da PNL e do Eneagrama. Essas duas ferramentas tão singulares me ajudaram muito no meu crescimento pessoal e profissional. Gostei tanto que já faz mais de 10 anos que me interesso e me aprofundo nesses temas, como um grande curioso e aprendiz. Na verdade, isso virou um grande hobbie na minha vida. Estudar, colocar esses aprendizados em prática, aprender pelo simples prazer de viver cada descoberta, tudo isso me traz uma grande energia, além de contribuir muito para o meu trabalho. Há 3 anos, pelo Instituto Vencer, de Santos, decidi que estava na hora de compartilhar um pouco desses conhecimentos e comecei também a ministrar cursos de formação sobre esses 2 temas. Já estamos indo para a 7ª turma, o que me deixa muito feliz.
E foi justamente da vontade de juntar a missão da editora com a sabedoria do Eneagrama, que surgiu a ideia de fazer um livro em quadrinhos sobre o tema. Na verdade, essa ideia surgiu durante uma das nossas aulas do curso Practitioner, onde trabalhamos como exemplo esse meu desejo pessoal de criar um livro. Logo após, nasceu “A Chave do Universo” que foi um dos 10 projetos selecionados pela Secretaria da Cultura, entre tantos outros, no seu programa de incentivo ProAC 2010.
“O deserto que atravessei, ninguém me viu passar”... esses versos da canção Catedral ilustram bem esse período. Foram 5 meses intensos de trabalho, período que me afastei da editora para me dedicar a realização desse sonho. 5 meses mergulhados em traduzir um conhecimento tão complexo como o Eneagrama em apenas 60 páginas de história, sem perder a profundidade do tema e com uma linguagem que pudesse ser compreendida pela grande maioria das pessoas. Na verdade, esse período foi um grande mergulho dentro de mim, e cada página criada traduzia uma descoberta a meu respeito, um desafio superado. Foi como passear num deserto, acompanhado apenas de si mesmo, e ao final da jornada perceber que algo havia mudado. Não sei se vocês vão gostar do livro, mas agora ele está aí para quem tiver a curiosidade de ler suas palavras e imagens! A “
Chave do Universo” é um livro sobre Você, sobre as personalidades do ser, sobre as possibilidades de ser, sobre as escolhas da vida. Uma história que começou há muitos anos atrás, com apenas alguns rabiscos nos cantos dos livros de escola...